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Desde os primórdios do jogo na vida de X., durante os anos 1960, a atividade era uma presença constante na dinâmica familiar. Aos 8 anos, ele fez sua primeira aposta em uma corrida de cavalos. Ao longo de 32 anos, X. continuou apostando, recorrendo a acordos no trabalho para acessar o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), empréstimos bancários, agiotas e até mesmo dinheiro da família sem autorização. Há 28 anos, porém, ele retomou o controle com o apoio do grupo Jogadores Anônimos (JA). O grupo oferece um programa de 12 passos para a abstinência compulsiva.
O JA, que viveu o auge do jogo do bicho e das loterias, testemunhou um aumento significativo em suas reuniões. O número de núcleos com encontros presenciais quase dobrou desde 2023, passando de 28 para 51 unidades. Esse crescimento é uma resposta direta à popularização das apostas online e ao rápido avanço da ludopatia, um distúrbio relacionado ao vício em jogos.
“Eu ligava para o Jockey Club para apostar todas as terças-feiras, que era quando tinha corrida de cavalo. Hoje, as pessoas podem apostar todos os dias nos celulares”, compartilha X., que reconhece sua própria jornada nos novos membros do grupo. Atualmente, aos 68 anos, ele desfruta de uma vida casada, saudável e com bons relacionamentos familiares. X. já apadrinhou mais de 200 pessoas no JA, demonstrando que a recuperação é possível e inspiradora para outros. A ludopatia é reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como um distúrbio.
Segundo Rodrigo Machado, psiquiatra colaborador do Programa de Transtornos do Impulso (Pró-Amiti) do Hospital das Clínicas da USP, houve um aumento de quatro vezes na procura por atendimento de viciados em apostas nos últimos dois anos. O perfil dos atendidos mudou, incluindo mais mulheres e jovens, uma indicação preocupante do alcance que a ludopatia tem atingido.
O Pró-Amiti destaca que a exposição ao jogo durante a infância e adolescência pode ser especialmente perigosa, devido à maturação cerebral e ao desenvolvimento da área frontal que controla o julgamento crítico. Outros centros de referência, como o Projad da UFRJ, também observaram um aumento na demanda por tratamento, abrangendo desde problemas financeiros até questões de saúde mental.
No Brasil, é possível buscar ajuda pelos serviços de atendimento primário do Sistema Único de Saúde (SUS) ou nos Centros de Atenção Psicossocial (Caps), que oferecem atendimento multidisciplinar. Para quem busca suporte específico em questões relacionadas ao jogo, os Jogadores Anônimos são uma irmandade de compulsivos que se reúnem para seguir um programa de abstinência de 12 passos.
Z., uma mulher de 28 anos, compartilhou sua jornada rumo à recuperação após se ver envolvida em dívidas e problemas familiares devido ao vício em jogos. Y., um homem de 25 anos, também relatou sua experiência de perda financeira e emocional causada pelo jogo, enfatizando a importância de buscar ajuda e apoio em momentos de crise.
O crescimento do vício em jogos no Brasil reflete a necessidade urgente de mais atenção, pesquisa e recursos para lidar com essa questão de saúde mental. Iniciativas como os Jogadores Anônimos oferecem um caminho para a recuperação e o controle dos compulsivos, destacando a importância do apoio mútuo e da conscientização sobre os riscos associados ao jogo descontrolado.